Colcha de retalhos

  • Editora: Academias de Medicina e letras da Bahia – Salvador- Bahia
  • Publicação: 1990
  • Autor: Prof. José Silveira

Quando a infância a repetir-se em cada momento no velho sobrado da rua Direita do meu adorado Santo Amaro, onde vivia, na atmosfera humilde e modesta da pobreza, o que mais me encantava, na atividade caseira das minhas queridas tias, Iaiá e Zizinha, era a feitura cuidadosa, paciente e beneditina, cobertas multicolores, preparar às custas de pequeninos retalhos dos mais variados tecidos, lenta e pacientemente recolhidos. Esse retalhos, em gerais abandonadas, por não mais servirem como propaganda de mercadoria de logistas amigos, nas mãos delas, hábeis e delicadas, presos uns aos outros, por fios quase invisíveis, transformavam-se em desenhos curiosos, como se fossem lindas e caprichosas flores, em mantos e tapetes do mais diversificado feitio. Experiências, mais tarde, repetida por Ivonne, quando, das migalhas que lhe eram oferecidas, até gravatas velhas, criava agasalhos para os pobres e abandonadas criaturas, que a procuravam.

Era o mais belo exemplo, que recebia de como, com amor e paciência, coisas inúteis para muitos, podem se tornar boas e proveitosas para outros. Não, é certo, para uso e gáudio dos ricos e abastados, sempre bem servidos com luxo e opulência: mas para atender às necessidades dos mais modestos e desemparados. Sob essa influência sedutora e edificante, foi que me veio a ideia de juntar o que, sob variados motivos e a propósito de muitas coisas, andei escrevendo por ai. À semelhança da invocada coberta de tacos, também nada se encontrará de relevante: mas que, talvez, possa despertar a curiosidade de quem queira saber o que um simples clínico do passado, fora da Medicina, andava, na Bahia, cuidando da terra e de sua gente. Ademais, nessa colcha de retalhos, tento, mais uma vez, envolver carinhosamente, os leitores amigos, que perdem seu tempo lendo e relendo meus pobres escritos.

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