O professor José Silveira nasceu em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano, em 3 de novembro de 1904. De origem humilde e perdas familiares importantes, ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia no ano de 1922. Diplomou-se em 1927 e, no ano seguinte, defendeu a tese de doutoramento intitulada “Radiologia da aorta descendente”, que foi considerada a melhor da turma e laureada com o Prêmio Alfredo Brito.

No ano de 1930, foi para a Alemanha para aprofundar seus estudos sobre radiologia e encontrou-se com o professor Ludolf Brauer, nome consagrado internacionalmente na pesquisa e tratamento da Tisiologia, que o incentivou a implantar no Brasil um instituto voltado à luta contra a tuberculose. Sem recursos financeiros e trabalhando como professor na Faculdade Baiana de Medicina, José Silveira criou um serviço especializado para atender pacientes com tuberculose nos porões de um edifício da Faculdade de Medicina, no bairro do Canela, em Salvador, desde o início priorizando o atendimento de pessoas mais vulneráveis que passaram a chamá-lo de “Alemão do Canela”.

“Maneira carinhosa com o que me identificavam os pobres e abandonados indigentes, matriculados do Ambulatório Augusto Vianna, no bairro do Canela, quando, ignorado meu nome exato, procuravam-me identificar com essa expressão. A razão deveria estar em que, sendo eu alto e louro, assíduo e disciplinado, respeitador de horários e cumpridor permanente dos acertos, deveria ser mesmo alemão ou ter descendência germânica.”
Trecho do livro Alemão do Canela, escrito pelo professor José Silveira e publicado em 1988

Em fevereiro de 1937, o professor José Silveira criou o Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose (IBIT), instituição voltada ao tratamento e pesquisa sobre a doença, com a convicção de que “não se poderia progredir sem que se criasse uma base científica”. Premissa que permanece viva no propósito e no planejamento estratégico da Fundação José Silveira.

O professor José Silveira e a sua esposa, Dona Ivonne Silveira, cientes da gravidade da situação social das pessoas vitimizadas na época pela tuberculose, desenvolveram também um trabalho assistencial, visando não apenas a continuidade do processo terapêutico, mas a melhoria das condições de vida dessa população para que efetivamente alcançasse bons resultados.

O alto índice de cura dos pacientes atendidos no IBIT é atribuído ao cuidado integral. Além do acompanhamento médico, enfermagem, realização dos exames e remédios, inclui a assistência social e fornecimento de cesta básica, pão e leite, um padrão de qualidade implantado pelo professor José Silveira e sua esposa Ivonne Silveira, que assumiu voluntariamente o trabalho de apoio social às pessoas vitimizadas pela tuberculose, na década de 1930. Isto se mantém como premissa nos dias de hoje, sendo o Instituto reconhecido pelo Ministério da Saúde como referência no Brasil devido à atuação contra os determinantes sociais da saúde.

 

O IBIT foi o marco inicial para expansão de outras unidades, como o Hospital do Tórax, posteriormente denominado Hospital Santo Amaro. Outros serviços e unidades foram implantados e passaram a integrar, a partir de 1985, a Fundação José Silveira, instituição privada, de utilidade pública, sem fins lucrativos.

Em 1950, José Silveira prestou concurso para o cargo de professor catedrático na Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, e assumiu a cadeira de Tisiopneumologia da Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública e da Escola de Enfermagem da UFBA.

A história do professor José Silveira está preservada no Memorial José Silveira que funciona no antigo sobrado da família, um imóvel do século XIX, e é destinado à conservação do seu legado. Localizado em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano, reúne importante acervo com os registros da história profissional, afetiva e familiar do professor José Silveira, como artigos escritos e publicados no Brasil e no exterior, premiações e títulos,entre eles o de membro da Academia de Letras da Bahia, ocupando a cadeira de número cinco, além de objetos pessoais de valor afetivo, colecionados em vida pelo casal Silveira.

“Criador do Instituto Brasileiro para Investigação do Tórax, em Salvador, e unidades únicas em seu gênero em toda a América Latina, o ganhador do Prêmio Astra de 1977 no Brasil e que agora vê seu nome lançado na Europa para o Prêmio Nobel de Medicina de 1978, é considerado como o pioneiro na luta contra a tuberculose no Brasil e o grande responsável pelas pesquisas nesse campo que nos últimos 35 anos vem se efetuando no país.”

Jornal Diário de São Paulo, 22 de dezembro de 1977, por ocasião da indicação do professor José Silveira ao prêmio Nobel de Medicina de 1978.

Reconhecido pelo seu caráter empreendedor e prestigiado por diversas instituições nacionais e internacionais, o professor José Silveira deixou um legado de várias obras científicas e culturais, em forma de livros e artigos publicados no Brasil e no exterior.

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