- Editora: Centro Editorial e Didático da UFBA – Salvador – Bahia
- Publicação: 1982
- Autor: Prof. José Silveira
Em outras oportunidades, tenho procurado apresentar a figura excepcional de Prado Valladares, como um dos expoentes da Medicina da Bahia, talento invulgar, sensibilidade rara, grande mestre e notável homem de ciência. Com o propósito explícito, fazendo-lhe justiça, de anular, uma vez por todas, aquela falsa imagem, que dele fizeram seus inimigos, perpetuada na tradição oral, como uma criatura estranha. De comunicabilidade difícil, homem de real talento, segura erudição, mas preocupado apenas em escrever como os clássicos, discutir questiunculas linguísticas, amante de arcaísmos e obsoletas expressões vernáculas, eternamente levado nefelibata, fora da realidade e nada útil a terra e aos conterrâneos.
Vivendo como dos mais íntimos discípulos – ao seu lado, por cerca de dez anos, senti sempre a injustiça desse conceito. E, logo que pude, tentei desfazê-lo, com a argumentação ao meu alcance, inspirada em tudo que vi e observei. Apesar de sentir que minhas provas a muitos convenceram, não passaram elas de um simples depoimento pessoal, sujeito a toda espécie de tendenciosidade, sem a serenidade indispensável ao verdadeiro juízo crítico.
Por estas e outras razões é que, ao se completar o centenário do seu nascimento, entendi de apresentá-lo de modo menos suspeito: através da sua obra escrita, usando, tanto quanto possível, suas palavras; deixando que ele próprio exponha e justifique as suas doutrinas, com a menor interferência possível da minha parte.
Com esse propósito, fica bem claro, que não se trata aqui de uma critica científica, uma análise percuciente das suas ideias, pensamentos e atitudes. Isso me levaria muito longe.. Cuido, tão somente de fixar, em síntese abreviada, o essencial do que disse, praticou e ensinou o grande mestre. Se, em muitos casos, já não tem mais sentido suas ponderações, se suas teorias não mais se justificam, a luz dos conhecimentos atuais, outras tantas continua, validas: sendo de admirar a clareza e a argucia de previsão com que abriu vários campos de conhecimentos da nossa nosologia.
Definindo, assim, o simples e modesto propósito, deste ensaio, iremos acompanhá-lo, na Medicina, no Ensino, como polemista e como politico.
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