Fundação José Silveira

Do carro de boi ao zeppelin

Do carro de boi ao zeppelin

  • Editora: Mensageiro da Fé LTDA – Salvador- Bahia
  • Publicação:
  • Autor: Prof. José Silveira

Mas cedo ou mais tarde – e creio que já vou tardando desaparecerei no mundo misterioso e na sombra eterna, sem deixar claramente expresso o que pensei e senti, na passagem efêmera, por uma vida cheia de tropeços, contradições, sofrimentos e lutas.

A solução estaria na redação das minhas Memorias, opinaram alguns. Mas, indaguei sempre: valeria a pena?

A vida dos grandes homens e a experiência das personalidades de exceção – pela força irradiante do seu exemplo e consequência educativa das suas atitudes – merecerão, sem dúvida, nos seus mais delicados pormenores, revelação franca, ainda quando envolvida em forte conotação pessoal.

Bem diversamente do homem comum, daqueles que, sem maiores lampejos nem gestos de bravura, cumpriu apenas, com maior ou menor fervor, tarefas humildes impostas pelo Destino.

Dentro dessa linha de pensamento, é que excluí dos meus planos a ideia de deixar grafadas vivências e recordações, por mais gratas que me tenham sido. Minha convicção era de que só a mim e a mais ninguém poderiam interessar e comover.

Eis senão quando, caminhando por atalhos diferentes, como aquele em que tentei homenagear velhos e grandes amigos, nas páginas de Imagens da Minha devoção, sou apanhado, como memorialista, pela análise percuciente e sábia de Godofredo Filho.

Percebi então que, mesmo sem querer, estava dizendo de mim, muita coisa, que sempre me pareceu insignificante e vulgar e que, não obstante, agradou a tantos, alcançando até aplausos entusiásticos e estimulante aceitação.

Daí a resolução de enfeixar velhas e recentes crônicas publicadas umas, inéditas outras, neste libreto sobre o que vi na minha passagem por algumas das terras que visitei.

As terras foram sem conta: das gigantescas metrópoles, repetidamente visitadas, as pequeninas cidades por mim sempre preferidas. Muitos, a se perderam na lembrança, os fatos e os episódios, que dariam material e essência para grandes livros de notáveis escritores.

Mas, como esse não foi o caso, ficaram apenas simples e fugazes instantâneos do amplo e imenso mundo que me foi dado contemplar, frutos ressequidos de pobre e acanhado engenho, poeiras que restaram de uma jornada de quase meio século, quando deixei a visão bucólica e plangente do carro de boi dos canaviais da minha terra para atingir, nas asas ruidosas do avião ou no bojo suave e silencioso do Zeppelin, o panorama insondável dos espaços infinitos. Com isso, tenha eu talvez conseguido compor o 2º capítulo das tais Memorias, que nunca pretendera escrever.

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